sexta-feira, 30 de julho de 2010

Angélica Freitas


rilke shake
salta um rilke shake
com amor & ovomaltine
quando passo a noite insone
e não há nada que ilumine
eu peço um rilke shake
e como um toasted Blake
sunny side para cima
quando estou triste
& sozinha enquanto
o amor não cega
bebo um rilke shake
e roço um toasted blake
na epiderme da manteiga
nada bate um rilke shake
no quesito anti-heartache
nada supera a batida
de um rilke com sorvete
por mais que você se deite
se deleite e se divirta
tem noites que a lua é fraca
as estrelas somem no piche
e aí quando não há cigarro
não há cerveja que preste
eu peço um rilke shake
engulo um toasted Blake
e danço que nem dervixe 



o que passou pela cabeça do violinista
em que a morte acentuou a palidez ao
despenhar-se com sua cabeleira negra &
seu stradivarius no grande desastre
aéreo de ontem




mi
eu penso em béla bártok
eu penso em rita lee
eu penso no stradivarius
e nos vários empregos
que tive
pra chegar aqui
e agora a turbina falha
e agora a cabine se parte em duas
e agora as tralhas todas caem dos compartimentos
e eu despenco junto
lindo e pálido minha cabeleira negra
meu violino contra o peito
o sujeito ali da frente reza
eu só penso


mi
eu penso em stravinski
e nas barbas do klaus kinski
e no nariz do karabtchevsky
e num poema do joseph brodsky
que uma vez eu li
senhoras intactas, afrouxem os cintos
que o chão é lindo & já vem vindo
one
two
three



na banheira com gertrude stein

gertrude stein tem um bundão chega pra lá gertude stein e quando ela chega pra lá faz um barulhão como se alguém passasse um pano molhado na vidraça enorme de um edifício público

gertrude stein daqui pra cá é você o paninho de lavar atrás da orelha é todo seu daqui pra cá sou eu o patinho de borracha é meu e assim ficamos satisfeitas

mas gertrude stein é cabotina acha graça em soltar pum debaixo d'água eu hein gertrude stein? não é possível que alguém goste tanto de fazer bolha

e aí como a banheira é dela ela puxa a rolha e me rouba a toalha

e sai correndo pelada a bunda enorme descendo a escada e ganhando as ruas de st.germain-de-près



sashimi

sushiman, sushiman
por que mãos tão frias
sushiman

pra retalhar melhor
o peixe
sushiman

com facas
afiadas
sushiman

no sentido da
corrente
sushiman

ocupação tão masculina
sushiman

chora só suntory
whisky
sushiman

sushiman, sushiman
quando deita a cama
é um leito de arroz

e a noite é uma gata
que engole até a cabeça

sushiman
 

Angélica Freitas 






Um comentário:

Guiga disse...

gostei da foto que vc postou ficou muito legal!