quarta-feira, 19 de maio de 2010

Com o coração aberto, contando as horas que faltavam para o encontro

Hoje o dia esteve frio, chuvoso, sem luz, como a minha futura velhice. Fui assediado por estranhos pensamentos; sentimentos turvos, questões ainda obscuras para mim, comprimiam-se dentro do meu cérebro, sem que eu tivesse força ou vontade para solucionar. Não, não seria eu quem poderia resolver tudo isso!
Hoje não nos veremos. Ontem, quando nos deixamos, as nuvens espalhavam-se no céu e o nevoeiro adensava-se. Disse que o dia seria mau; ela não respondeu, pois não queria falar contra si própria: para ela, este dia é luminoso e claro e nenhuma nuvem poderá eclipsar a sua felicidade.
<>, dissera ela, <>
Pensei que ela não iria notar a chuva de hoje, mas, no entanto, não veio.
Ontem foi nosso terceiro encontro, a nossa terceira noite branca.
Ainda assim, como a alegria e a felicidade tornam belas as pessoas! Como o amor enche o coração! Quando nos sentimos felizes, parece-nos que o coração nos vai transbordar para o coração do ente amado. Queremos que todos estejam alegres, que todos se riam. E como é contagiosa, esta alegria! Ontem exprimia-se nas suas palavras a ternura e a bondade que, em relação a mim, existiam no seu coração... Como ela se preocupava comigo, como me acariciava, como encorajava o meu coração! Oh, quanta garradice a felicidade inspira! E eu... tomava tudo como coisa segura, fui ao ponto de pensar que ela...

Mas, Deus meu, como posso ter acreditado em tal coisa? Como posso ter sido tão cego que não vi nenhum daqueles tesouros me era destinado e que, afinal, aquela ternura, aquela solicitude, aquele amor... sim, o seu amor por mim, nada era, em suma, mais do que a alegria, que se antevia próxima, de ir estar com outro e, por outro lado, o desejo de impor, a mim também, a sua felicidade?... Quando ela viu que ele não chegava, que esperáramos em vão, então entristeceu, ficou tímida e receosa. Todos os seus gestos, todas as suas palavras se tornaram menos naturais, menos joviais e menos alegre. E, coisa estranha, as suas atenções por mim redobraram, como se tivesse instintivamente querido derramar sobre mim o que desejava para si própria, o que começava a temer que não se realizasse. A minha Nastenka estava agora de tal modo tímida e amedrontada que me parece que compreendera, finalmente e só nessa altura, que eu sofria e que a amava, apiedando-se do meu pobre amor. Na verdade, quando estamos infelizes, sentimos com maior violência a infelicidade dos outros; o sentimento não se destrói, concentra-se...

2 comentários:

helô disse...

ô giu, cê sabe que a distância tb afasta algumas lembranças, às vezes, mesma as mais presentes. tava vendo a foto que cê postou no dia 25 de janeiro e me lembrei (assim, colorido) de como vc é linda.

helô disse...

ops, "mesmo".